Leiam no Globo:
Brasil é
reprovado em 41 de 57 itens considerados essenciais para atrair investimento
- Relatório do Boston Consulting Group mostra problemas na infraestrutura, nas telecomunicações, na burocracia e na falta de mão de obra qualificada
RIO – O Brasil foi reprovado em 41 dos 57 itens
avaliados em sete pilares econômicos analisados no relatório Charting a Steady
Course (Traçando um Curso Estável, em tradução livre) realizado pela
consultoria americana Boston Consulting Group. Obtido com exclusividade pelo
GLOBO, o levantamento analisa a capacidade brasileira de atrair empresas
internacionais e se estabelecer como um importante ponto de fluxo de
investimentos estrangeiros em relação a outros 13 países – divididos em Hubs
Internacionais (Hong Kong, Cingapura, Reino Unido e Estados Unidos), Nações
Desenvolvidas (França, Alemanha, Japão e Coreia do Sul) e Nações em
Desenvolvimento (Chile, China, Índia, México e Rússia).
Na última quarta-feira, o IBGE informou que a
economia brasileira cresceu apenas 0,6% no primeiro trimestre, frente ao último
trimestre de 2012. As previsões são de que o país deve ter expansão em torno de
2% este ano. O consumo das famílias e do governo ficou estagnado e os
investimentos ainda não decolaram: houve aumento de 3% entre janeiro e março,
mas a taxa ficou em 18,4% do Produto Interno Bruto (PIB), abaixo da meta de
20%. Para crescer de forma saudável, diz o estudo do Boston Consulting Group, o
Brasil precisa reequilibrar a demanda, direcionando mais esforços ao
investimento que ao consumo.
O
relatório preocupa. Os 41 reprovados representam 71% dos dados analisados. Ou
seja, de 3 entre 4 itens verificados não estão de acordo com o que deveria ser
adequado para um bom desempenho econômico. A infraestrutura aérea está
morrendo, a qualidade e o custo das telecomunicações são altamente onerosos, a
burocracia é impeditiva e o apagão de profissionais bem qualificados em setores
considerados essenciais atravancam projetos.
— Temos um país com economia sofisticada, estável e
bastante pró-negócios. Com legislação considerada sólida. Mas temos enormes
desafios a transpor na infraestrutura, na educação e nos cenários de negócios —
afirma André Xavier, sócio do Boston Consulting Group. — De certa forma, o
Brasil é prisioneiro de um sucesso recente. A economia cresceu muito e o país
se transformou com infraestrutura do passado. A gente perdeu muito tempo não
fazendo os investimentos adequados.
Entre 2002 e 2011, o país investiu 17,3% do PIB,
muito pouco diante dos 22% necessários para manter um crescimento no patamar de
4% a 4,5%. Também fica atrás de outros Brics, como a Índia (30%) e China (42%).
"Diante destes índices, o Brasil não conseguirá sustentar seu próprio
crescimento", analisa a publicação.
Apesar de toda a boa vontade do governo, André
Xavier salienta que o Brasil não conseguirá ampliar a infraestrutura do país
para níveis de excelência sem a necessidade de investimentos externos. Para
isso, o Brasil precisará investir em questões essenciais – e consideradas
básicas – para seu desenvolvimento, como a distribuição de renda, a educação
primária, a pesquisa e desenvolvimento e a mobilidade urbana.
— A falta de capital humano é um dos problemas que
mais atrofiam o crescimento. É herança de décadas de descaso - afirma Alex
Agostini, economista-chefe da consultoria Austin Ratings. - Para se ter um
profissional qualificado é necessário que ele estude, no mínimo, 18 anos. Quem
está na faculdade hoje faz parte de uma geração que conviveu com apenas uma
única moeda, momento de rara estabilidade no país. No entanto, os efeitos na
educação só serão sentidos em mais ou menos duas décadas - analisa.
Os pontos positivos
Mesmo com a pífia performance brasileira, o Brasil
apresentou alguns pontos de excelência. Segundo o relatório, o país, em termos
proporcionais, é mais rico que a Índia e a China. Sua democracia é a mais
estável entre os emergentes, incluindo a Rússia. É a maior nação da América
Latina, com um terço da população da região gerando 40% do PIB (Produto Interno
Bruto) da área. Atualmente, sustenta o título de sexta maior economia do mundo
- com previsão de se tornar a quinta até 2020.
E vai além. Afirma categoricamente que os
investidores podem ficar despreocupados com seu dinheiro pois o país é
protegido por um sistema bancário bem equipado e dito como um dos melhores do
mundo, a frente dos Estados Unidos e Reino Unido. A explicação para este item é
simples: a inflação galopante dos anos 80 e o overnight fizeram com que
o sistema financeiro fosse obrigado a se sofisticar.
De longe, o pilar mais bem elogiado é o da imagem
do país no exterior. "É o país mais aberto a novas ideias entre todos os
analisados. Está entre os mais atraentes a turistas muito por sua
cultura", aponta a pesquisa. A imagem positiva reflete na capacidade de
atrair eventos internacionais: celebrou 304 congressos em 2011 contra 133 em
2003, posicionando-se na 7ª posição no ranking mundial.
— Apesar de na politica monetária o governo
apresentar uma série de pontos falhos, não podemos deixar de dizer que o mesmo
mostra empenho em apresentar bons números em outros setores - diz João Pedro
Brugger, analista da Leme Investimentos.
O economista-chefe da consultoria LCA, Bráulio
Borges, observa que, mesmo com as frustrações recentes com os dados do
crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre, vale ressaltar que o
Investimento Estrangeiro Direto (IED) está mantendo o nível de 2,8%, "mais
alto do que vimos em 2010, de 2,3%, ano em que a economia bombou".
— Aparentemente, o investidor estrangeiro que está
querendo ganhar dinheiro com produção, explorando o mercado interno, continua
relativamente otimista com a situação do Brasil — diz o economista.
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