quinta-feira, 6 de junho de 2013

A europeização dos estádios e a morte das torcidas


Maracanã, ontem e hoje. Qual você prefere?

Não é de hoje que o espetáculo das arquibancadas brasileiras vem perdendo a graça. Aos poucos, talvez até com boas intenções, as federações foram exterminando um a um os componentes que animavam os torcedores. Cerveja, bandeiras, rolos de papel higiênico, sinalizadores, tudo foi sendo banido. Antigos torcedores foram substituídos por pacatos cidadãos, engomados e comportados, podendo facilmente serem confundidos com os espectadores de um cinema.

A inauguração do novo Maracanã, na semana passada, pode ser vista de certa forma como o atestado de óbito das antigas torcidas. Um estádio lindo, confortável, mas completamente sem alma. Charangas, gritos de guerra, fumaça, vibração...Quem viu, viu. Quem não viu, verá apenas na TV ou internet. O próprio futebol, dentro das quatro linhas, teve um membro amputado com o silenciamento dos torcedores. A seleção canarinho, pentacampeã mundial, hoje ocupa um vexaminoso 22º lugar no ranking da FIFA. Sinal os tempos. Ou talvez melhor, final dos tempos.

Leiam abaixo algumas considerações do Cesar Maia sobre este assunto:

"COMO O TORCEDOR REAGIRÁ AO SISTEMA EUROPEU DE INGRESSO AO ESTÁDIO APLICADO  NO BRASIL?
         
1. É verdade. O futebol brasileiro enfrenta uma equação de difícil solução para seus clubes serem competitivos: receita de terceiro mundo e despesa potencial de primeiro mundo, se mantiver os craques. Claro, receitas em geral nos estádios incluindo todo tipo de publicidade e promoções.
         
2. Na Europa a equação dos estádios é resolvida da seguinte forma: os torcedores de maior renda vão aos estádios e compram ingressos caros e os torcedores de menor renda ficam vendo na TV. No Brasil é o inverso e, com isso, a receita dos clubes pela transmissão na TV é maior que pela venda de ingresso nos estádios. Lá, a renda média da população é bem maior.
         
3. Agora se tenta aplicar no Brasil o sistema europeu. Isso foi feito em Brasília no jogo Santos e Flamengo e no Rio no jogo Brasil e Inglaterra. As rendas foram recordes de todos os tempos: quase R$ 7 milhões em Brasília e quase R$ 9 milhões no Rio. Com um público pagante de 70% da capacidade do Maracanã, o valor médio do ingresso alcançou 150 reais.
         
4. Quem pode pagar isso? Bem, só a classe média alta. Uma família padrão gastaria, só de ingressos, quase um salário mínimo. Essa inversão –pobres à TV, classe média alta aos estádios- mudará a coreografia das torcidas, onde é o torcedor popular a grande massa que grita, canta, gesticula e leva suas enormes bandeiras, chora, sofre e ri.
          
5. E como reagirá o torcedor popular? Irá assistir em casa e pagar a tv por assinatura? Irá a um bar que comprou o pacote da tv por assinatura? Protestará por ter perdido um entretenimento ao qual seu bisavô carioca acostumou seu avô e agora a seu pai e mãe, irmãos e irmãs?
          
6. Bem, essa será a equação que transformará as concessões dos estádios em sucesso..., ou estrondoso fracasso de imagem. Isso se todos se comportarem bem fora dos estádios."

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