Ainda não conseguiu entender o aspecto individual e democrático das redes. Acostumados a contratar manifestantes e a discursar sem serem questionados, vão quebrar a cara mais uma vez. A voz do governo será apenas mais uma no meio de dezenas de milhões, cada uma delas com opinião e identidade próprias. Foi-se o tempo em que partidos de esquerda e sindicatos conseguiam mobilizar multidões a seu favor.
Mas ótimo. Que venham. Apenas oferecerão mais oportunidades para serem esculhambados de forma viral.
Na Folha de São Paulo:
Governo vai montar 'gabinete digital' para as redes sociais
Depois das manifestações de junho, que ocorreram após intensa
organização na web, o governo decidiu montar um "gabinete digital" para
se comunicar, sem intermediários, com as redes sociais.
Segundo a Folha apurou, o objetivo é abastecer o mundo cibernético com
dados oficiais; monitorar e pautar o debate virtual; fazer disputa de
versões, desfazer boatos e tentar, na medida do possível, colocar a
presidente Dilma Rousseff em contato mais direto com internautas.
Ao contrário do Participatório, espaço virtual lançado pelo governo na
última quarta-feira, mas em gestação desde 2011, o "gabinete digital" é
uma resposta ao chamado "susto das ruas" no Executivo.
Os protestos de junho foram articulados na internet sem que o poder
público conseguisse capturar a movimentação e, menos ainda, reagir.
No período, a popularidade presidencial caiu 27 pontos, conforme pesquisa do Datafolha de 29 de junho.
Não por acaso, o comando para criar o órgão partiu da própria Dilma
Rousseff. Em sinal de que já é visto como estratégico, a nova estrutura
será instalada no terceiro andar do Palácio do Planalto, onde despacha a
presidente.
O gestor Valdir Simão coordenará a equipe. Antes secretário-executivo do
Turismo, onde criou um sistema de acompanhamento de emendas
parlamentares na pasta, sua principal função será sistematizar dados
oficiais, integrando programas de ministérios, e disponibilizá-los em
linguagem acessível.
Essa plataforma servirá de base para instrumentalizar as redes sociais.
Além disso, está em avaliação a criação de uma espécie de "ouvidoria
virtual", ligada quase em tempo real à Presidência da República. Uma das
alternativas é fazer isso por meio de uma conta no Facebook.
Criador do personagem Dilma Bolada no Twitter, Jeferson Monteiro diz
que, se autoridades estivessem nas redes durante o auge dos protestos,
as pessoas "teriam para onde recorrer".
"Há uma central de boatos instalada dos dois lados, e isso é muito ruim.
Ninguém está interessado em ir lá no site da Presidência ver a verdade.
Estão trabalhando só com marketing, não ampliam o diálogo", afirma
Monteiro.
Em reuniões reservadas, o ex-presidente Lula tem manifestado preocupação semelhante e pedido mais ativismo nas redes.
Tanto o PT quanto o governo Dilma Rousseff reconhecem o que pesquisas e
especialistas apontam: o noticiário produzido por jornais, portais e TVs
brasileiros dominou os compartilhamentos em redes sociais durante as
manifestações que pararam o Brasil em junho.
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