Quando se iniciaram os protestos de junho a presidente da República
tinha certeza absoluta de que a coisa não era com ela. Na primeira
semana Dilma Rousseff disse a um senador do PT que a procurou para
alertar sobre a gravidade da situação, que não seria atingida. Segundo
ela, as manifestações seriam um problema de prefeitos e governadores.
Avaliação errada, como viria a apontar a queda de popularidade e
avaliação positiva de governo registrada pelo instituto Datafolha no fim
daquele mês e confirmada pela pesquisa CNT realizada já na fase de
refluxo (temporário?) das ruas e divulgada ontem.
A presidente tampouco deu ouvidos a tudo o que disse o ex-presidente
Lula na reunião que os dois tiveram em São Paulo com o prefeito Fernando
Haddad, o marqueteiro João Santana e o presidente do PT, Rui Falcão,
assim que ficou evidente que a crise bateria às portas do Palácio do
Planalto.
Na ocasião, ficou combinado que Dilma chamaria prefeitos e
governadores para um encontro de "aconselhamento" para, em conjunto,
decidirem sobre a melhor forma de reagir.
A presidente fez o contrário: convocou governadores para posarem de
coadjuvantes naquele pronunciamento em que ela propôs pactos e
Constituinte exclusiva mediante plebiscito para a reforma política,
encerrando a transmissão pela TV Brasil antes que os chefes de
executivos estaduais pudessem falar.
Com a história do plebiscito Dilma tentou transferir a
responsabilidade para o Congresso que rejeitou a proposta e deu o troco:
aprovou uma série de projetos de criação de despesas, obrigando-a a
anunciar veto às medidas de dita "agenda positiva". Demagogia por
demagogia, deu empate.
Em tese, porque na prática quem perdeu foi ela. O Congresso estava
perdido há tempos. Desmoralizado, desqualificado, desprovido de gordura
para queimar. Dilma não: antes de a inflação e a população darem o ar
das respectivas graças, chegou a quase 75% de avaliação positiva de seu
governo e bateu em 55% das intenções de voto.
Hoje, três ou quatro pesquisas, desacertos em série na economia,
explosões de descontentamento e respostas erráticas depois, desceu ao
patamar de 30% tanto na avaliação positiva quanto nas intenções de
votos.
Segundo a pesquisa CNT, a percepção negativa mais que triplicou: foi
de 9% para 29%. Pior: 44% dizem que não votam nela de jeito nenhum. Ou
seja, Dilma entrou naquela faixa perigosa em que se cruzam rejeição e
aprovação. Quando a primeira caminha para superar a segunda, a chance de
recuperação torna-se remota.
É cedo para firmar certeza, mas vislumbra-se aí mais um erro de
cálculo da oficina palaciana sobre a convicção de que Dilma Rousseff não
apenas será candidata à reeleição como pode levar no primeiro turno.
Confiança esta baseada em boa medida no poder da caneta presidencial e
no fato de o repúdio aos políticos alcançar a todos eles. Alcança, mas é
de se observar que Marina Silva subiu de 12% para 20% e Eduardo Campos
de 3% para 7% em números redondos. Aécio Neves foi de 17% para 15%.
Sem considerar a entrada em cena de improbabilidades como Joaquim
Barbosa e possibilidades como José Serra, registre-se que os nomes
vistos como "novos", mas ainda assim políticos, estão conseguindo
arrebatar o capital antes pertencente à presidente.
Se eles saberão ou poderão manter essa tendência de ganho são outros
quinhentos a serem contados daqui em diante. De um jeito melhor se o
governo continuar sem norte. De outro pior caso Dilma, PT e companhia
recuperem a bússola perdida no baile à fantasia da popularidade
desprovida de lastro na confiabilidade de palavras e gestos.
Credibilidade dá trabalho para ser construída. Em compensação, é muito mais difícil de ser destruída.
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