FT diz que sensação de bem-estar no Brasil é ‘fachada’ e critica estilo ‘mandão’ de Dilma
LONDRES – O Brasil precisa correr para aproveitar o capital
internacional existente, que atualmente é barato e abundante, para
aumentar o investimento na economia. A sugestão é do jornal “Financial
Times”. Em editorial publicado nesta segunda-feira, a publicação diz que
a sensação de que tudo corre bem no Brasil é apenas uma “fachada” e diz
que o estilo “mandão” de Dilma Rousseff é bom para evitar a corrupção,
mas estaria atrasando a economia, especialmente o investimento. O texto
critica ainda a escolha do governo: em vez de reformas amplas, apoia
setores “mimados”, como as montadoras.
O editorial diz que o Brasil “corre o risco, mais uma vez, de
frustrar imensas expectativas”. “A aparente sensação de bem-estar do
Brasil é uma fachada. O crescimento da economia no ano passado foi de
menos de 1%, pouco melhor que a zona do euro. Este ano, o Brasil está
crescendo menos que o Japão. A inflação está corroendo a confiança do
consumidor e há uma sensação de mal-estar. A causa é o abrandamento do
investimento, tendência que começou em meados de 2011 e continua. Mais
investimento é exatamente o que o Brasil precisa para manter os empregos
e tornar-se a potência global a que aspira ser.”
O texto lembra que o investimento brasileiro equivale a 18% do
Produto Interno Bruto (PIB), bem menos que os 24% destinados pelos
vizinhos latino-americanos e os quase 30% dos países da Ásia. A culpa,
diz o FT, é dos governantes e o problema não vem de hoje. “Brasília deve
ter grande parte dessa culpa. A extravagância do modelo econômico
impulsionado pelo consumo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se
esgotou. O modelo Dilma, apesar dos primeiros sinais promissores, está
provando (apenas) ser um pouco melhor”, diz o texto.
“O estilo ‘mandão’ dela não é adequado para a persuasão colaborativa
exigida pelo tipo particular de política de coalizão do Brasil. A tomada
de decisão tem sido centralizada, o que evita a corrupção, mas retarda o
processo. Dilma também tem evitado consistentemente as reformas
orientadas para o mercado em favor do protecionismo de alguns setores
preferidos e seus lobbies, como as mimadas montadoras”, critica o texto.
Para o FT, outro exemplo dessa falta de foco do governo brasileiro
está na infraestrutura. “O Brasil quer captar bilhões de dólares para a
construção de novos portos, aeroportos, viadutos e estradas. Existe o
interesse e o compromisso firme dos investidores. No entanto,
surpreendentemente, o marco regulatório em vigor não é apropriado para
permitir a construção dessa nova infraestrutura. O dinheiro está sendo
deixado sobre a mesa desnecessariamente”, diz o texto.
“O Brasil precisa desesperadamente de mais investimento. O baixo
nível da poupança interna significa que grande parte desse financiamento
deve vir do exterior. O capital está barato no momento, mas não será
para sempre. O Brasil tem uma grande janela de oportunidade. Dilma
Rousseff e seu governo precisam fazer as coisas acontecerem enquanto
essa janela segue aberta”, diz o editorial.
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