No Estadão:
Serra aposta em Aécio para se eleger
Presidenciável tucano diz que colega mineiro é uma das figuras mais importantes da política e que será 'presidente do Brasil um dia'
Amparado pela liderança política do ex-governador Aécio Neves, o presidenciável José Serra (PSDB) deu demonstrações, ontem, de que aposta numa virada em Minas Gerais no segundo turno para eleger-se presidente da República. Aécio reuniu 398 prefeitos do Estado - de um total de 853 - em ato que em nada lembrava a apatia do primeiro turno.
Eleito senador por larga margem de votos, e tendo feito seu sucessor no Estado, Antonio Anastasia, Aécio comandou um encontro onde o engajamento pró-Serra e a farta distribuição de materiais de campanha deixavam evidente que a adrenalina era outra. Além de exibir a força política do ex-governador, a reunião revela a nova estratégia tucana: combater o chamado voto "dilmasia", que juntava Dilma Rousseff (PT) e Anastasia.
Orientado por Aécio, Serra assumiu um compromisso em relação ao Fundo de Participação de Municípios (FPM), sem mencionar aumento do porcentual de repasses a prefeitos. Ele também se autoproclamou um municipalista. "Minha proposta é que não seja dado mais nenhum incentivo (fiscal) sem que haja automaticamente a reposição aos municípios", disse Serra. A coordenação de campanha considera que os prefeitos, assim como foram fundamentais na virada de Anastasia, serão protagonistas numa eventual reversão do quadro em Minas no segundo turno.
No Estado, segundo colégio eleitoral do País, Dilma Rousseff teve uma vantagem de quase 17 pontos porcentuais sobre Serra (46,98% a 34,18%). Agora, os tucanos mineiros estão com os olhos voltados para os 21,25% dos votos válidos que Marina Silva (PV) teve no Estado. O PV é aliado de Aécio em Minas.
Novos painéis fotográficos em que Aécio e Serra se abraçam, sob o slogan "Minas é Serra, pelo Brasil", foram criados exclusivamente para o segundo turno. Prefeitos levaram ainda sacolas de adesivos, panfletos e outras peças para seus municípios.
"O mais mineiro". Bandeira de Minas nas costas, Serra disse à plateia, formada por prefeitos, vice-prefeitos, deputados e lideranças regionais: "Quero ser o mais paulista dos mineiros e o mais mineiro dos paulistas." Ao final do evento, o presidenciável assumiu a importância de Aécio para sua eleição: "Trata-se de uma das figuras mais importantes da política brasileira. É o homem que vai ser presidente do Brasil um dia. É o homem que vai me ajudar muito neste segundo turno em Minas e no Brasil." Aécio fez o ataque mais direto ao PT e ao governo federal. "O PT, sempre que teve que optar entre o interesse do Brasil e o interesse partidário, ficou com o interesse partidário", atacou o senador eleito, citando a posição petista contra o colégio eleitoral em 1985, contra o Plano Real e contra o governo de Itamar Franco. "A vitória completa da boa prática política, da seriedade e da eficiência na gestão pública, só existirá com a vitória de José Serra", prosseguiu.
"Como presidente eu vou estar ligado às prioridades do Estado. Os meus parceiros vão ser o governador Anastasia, os nossos queridos senadores eleitos Aécio Neves e Itamar Franco", discursou o tucano paulista, que desfiou inúmeros elogios a seus cabos eleitorais mineiros. Itamar, por exemplo, foi chamado de "exemplo de decoro".
"Falar para Minas". Em sua fala, Anastasia destacou: "Vamos dar o nosso sangue para ver José Serra presidente do Brasil." Depois, coube a Itamar Franco dar os mais diretos conselhos eleitorais a Serra: "É preciso falar para Minas, porque, se não falar para Minas, Vossa Excelência não ganhará essa eleição." E acrescentou: "Aqui foi o front da resistência. Aqui se resistiu porque o mineiro, acima de tudo, é ética e não é corrupto" - relembrando a vitória política do projeto de Aécio em Minas, derrotando os aliados do presidente Lula.
Num ato simbólico, o presidenciável tucano recebeu o título de "amigo de JK" e o apoio formal da família do ex-presidente Juscelino Kubitscheck. "José é o santo protetor da família. O senhor vai ser o santo protetor da família brasileira", afirmou Maristela, filha de JK.
Serra evitou fazer comentários sobre a ação petista de investigar, em São Paulo, contratos da Dersa com o governo do Estado feitos quando Paulo Vieira Souza, o Paulo Preto, era diretor da entidade. Os tucanos negam que Paulo Preto tenha atuado na arrecadação de recursos ou que tenha havido desvio de doações. "Estou agora evitando um bombardeio cerrado de comerciais negativos. Tudo coisa sem pé nem cabeça. Tem cada mentira que a gente deve dar um prêmio pela imaginação da mentira."
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