Encerrada a eleição presidencial, façamos uma breve análise dos resultados obtidos. Dividi o assunto por temas:
Presidência:
Numa disputa em que a poderosa máquina estatal desavergonhadamente bancou boa parte da campanha petista, e na qual o Presidente da República usou todo o peso de sua instituição a favor de sua candidata particular, a vitória de qualquer oposicionista seria dificílima. Se levarmos ainda em conta a diferença da qualidade técnica da campanha televisiva e o maior tempo de TV que Dilma teve no primeiro turno, tivemos uma disputa absurdamente desigual. Apesar de tudo isso, pouco mais da metade dos eleitores fez sua opção pela candidata do Lula e do PT. Dilma obteve 52,29% total de votos. O restante preferiu votar em Serra, em branco ou anular o voto. Isso sem contarmos as abstenções. Quando dizem que apenas 3% da população desaprova o Lula, algo de muito estranho está acontecendo.
No mapa abaixo, vejam quem venceu em cada estado. Estados azuis, Serra. Estados vermelhos, Dilma.
Serra venceu em nada menos que 11 estados. São eles Roraima, Acre, Espírito Santo, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nada desprezível, não é mesmo? Este mapa, por sinal, é muito parecido com o mapa da eleição de 2006, quando Alckmin disputou com Lula, o que sugere a existência de 2 países diferentes dentro do Brasil. A conveniência de mantê-los amarrados como são hoje é algo bastante discutível, ao meu ver. Acho que isso merece uma análise mais séria e sem preconceitos. Um novo modelo federativo deveria ser pensado, para se dizer o mínimo. Já tivemos guerras por isso, não custa lembrar.
Estados:
Numericamente falando, a coligação governista venceu em mais estados. Se formos analisar o peso de cada estado, a oposição venceu de goleada. O PSDB e o DEM juntos, levaram 11 estados. São eles: Roraima, Amazonas, Pará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Vivem aí cerca de 52,3% do eleitorado brasileiro e está aí concentrado nada menos que 60% do PIB nacional. Lideranças estaduais fortes com capilaridade e caixa disponível serão importantes para um bom posicionamento em futuras disputas. Vejam no mapa abaixo a disposição dos estados quanto aos futuros governadores.
Congresso Nacional:
É aí que mora o perigo. A oposição saiu sem dúvida enfraquecida. O governo terá maioria para aprovar projetos e engavetar ou comandar CPIs incômodas. O PT terá maior facilidade para implantar seu projeto bolivariano de poder, através do nefasto Plano Nacional de Direitos Humanos, um nome bonitinho para um monstro que pretende enterrar de vez a Democracia e a Constituição Brasileira. Terão trabalho redobrado os parlamentares oposicionistas, a imprensa e a sociedade, no papel de barrar tentativas autoritarias do novo governo. Estejamos prontos.
Vejam nos gráficos abaixo a nova composição da Câmara dos Deputados e do Senado Federal:
Agenda Política:
Apesar da vitória da esquerda, os conservadores saíram mais fortalecidos do que nunca. Questões que antes passavam longe do debate, como o aborto e a religião, foram temas obrigatórios nestas eleições. Até o Papa entrou na refrega. Serra bateu no MST no horário eleitoral, e o Dilma fugiu do assunto como o Diabo foge da cruz (a comparação foi inevitável).
Com décadas de atraso, os políticos descobriram que o brasileiro médio é conservador por excelência e não possui quem o represente no cenário político nacional. Abre-se uma brecha para que muitos conservadores enrustidos saiam do armário. Cabe à oposição, principalmente ao DEM, dar espaço e voz a eles. O Brasil deu seu recado.
Conservadorismo: Presidente americano Ronald Reagan e o Papa João Paulo II nos anos 80. Trinta anos depois, o Brasil acorda para o debate de valores. |
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