RIO - A voz de Oswaldo Payá era pesada ao atender o telefone. Minutos antes ele fora informado da morte de Orlando Zapata Tamayo , companheiro de luta para impulsionar o Projeto Varella, uma iniciativa que reuniu assinaturas de cubanos defendendo um referendo sobre mudanças políticas em Cuba. A tristeza se misturava à indignação e Payá, um dos principais dissidentes do país, não poupou críticas aos governos cubano e brasileiro. "O governo Lula não teve uma palavra de solidariedade com os direitos humanos em Cuba, tem sido um verdadeiro cúmplice", disse ao GLOBO.
( Lula chega a Cuba sob pressão de dissidentes e morte de preso político )
O que significa a visita do presidente Lula neste momento e os investimentos brasileiros no país?OSWALDO PAYÁ: Os projetos econômicos o Brasil pode levar de volta quando quiser. Respeitamos e amamos o povo brasileiro, mas o governo Lula não teve uma palavra de solidariedade com os direitos humanos em Cuba, tem sido um verdadeiro cúmplice com a violação dos direitos humanos em Cuba. Já não esperamos nem queremos esperar nada dele.
Sobre a carta que os presos políticos enviaram ao presidente Lula... O senhor apoia a iniciativa?PAYÁ: Nossos amigos presos sempre tentam chamar a atenção dos visitantes. E Lula, que esteve preso, deveria ter coragem de encontrar pessoas que estão detidas por defenderem a liberdade sindical, por defenderem os direitos dos cubanos. Mas, sinceramente, não creio que valha a pena pedir (o encontro). Ele demonstrou que seu compromisso é com este governo. Se tem alguma explicação a dar, que dê ao povo brasileiro.
Como o Brasil poderia ajudar?PAYÁ: Levantando a voz e com a solidariedade para libertar os presos políticos pacíficos, porque não colocaram bombas, não cometeram violência, só pediram respeito aos direitos. É só isso que o povo do Brasil deve fazer. Não se escuta essa voz. E agora, após uma cúpula que foi uma vergonha sobre a exclusão que o povo cubano sofre, sabemos que temos de lutar sozinhos.
Houve um encontro de dissidentes com uma delegação americana. Como esses encontros ajudam?PAYÁ: Se aqui vem alguém do Brasil e quer se reunir, vamos e falamos. Se vem de Vaticano, Espanha, EUA, se querem ouvir nossas opiniões, vamos e falamos. Ninguém pode pôr limites de com quem podemos falar. Essa delegação veio falar com o governo cubano. O que ocorre é que o governo é excludente até nisso.
Está sendo preparado um funeral para Zapata?PAYÁ: Não sabemos. Aqui há um regime totalitário onde as coisas mais elementares não são respeitadas. Assim, não sei o que vai ocorrer.
A oposição vai tentar uma aproximação com o Brasil?PAYÁ: Não. Vamos tentar com o povo brasileiro, porque sua embaixada aqui sequer trata conosco. E, por questão de dignidade, não vamos tentar nada com um governo que nos despreza. Com o povo do Brasil sim. Tomara que nossa mensagem chegue ao povo brasileiro.
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