Demorou 7 anos, mas o momento chegou. O verdadeiro chefe do Mensalão terá finalmente que se explicar ao Ministério Público. Desta vez não será com bravatas ou entrevistas para a imprensa amiga, e tampouco o investigado poderá sumir pela porta dos fundos.
O papo agora é sério, e se o trabalho do MP for bem feito, tem tudo para ir adiante e parar no STF, presidido hoje por ninguém menos que Joaquim Barbosa.
Leiam no Estadão:
Procurador
decide pedir investigação de acusações de Valério contra Lula
Operador do pior escândalo de
corrupção do governo do petista prestou depoimento em setembro, durante o
julgamento do caso no STF, e acusou ex-presidente de ter recebido dinheiro do
esquema
BRASÍLIA - O Ministério Público Federal vai
investigar o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva com base na
acusação feita pelo operador do mensalão, Marcos Valério, de que o esquema
também pagou despesas pessoais do petista. O procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, decidiu remeter o caso à primeira instância, já que o
ex-presidente não tem mais foro privilegiado. Isso significa que a denúncia
pode ser apurada pelo Ministério Público Federal em São Paulo, em Brasília ou
em Minas Gerais.
A integrantes do MPF Gurgel tem repetido que
as afirmações de Valério
precisam ser aprofundadas. A decisão de encaminhar a denúncia foi tomada no fim
de dezembro, após o encerramento do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal
Federal (STF). Condenado a mais de 40 anos de prisão, Valério, que até então
poupava Lula, mudou a versão após o julgamento.
Ainda sob análise do procurador-geral da
República, o depoimento de Valério em setembro do ano passado, revelado pelo
Estado, e os documentos apresentados por ele serão o ponto chave da futura investigação
que, neste caso, ficaria circunscrita ao ex-presidente.
O procurador da República que ficar
responsável pelo caso poderá chamar o ex-presidente Lula para prestar
depoimento. Marcos Valério também poderá ser chamado para dar mais detalhes da
acusação feita ao Ministério Público em 24 de setembro, em meio ao julgamento
do mensalão. Petistas envolvidos no esquema sempre preservaram o nome de Lula
desde que o escândalo do mensalão foi descoberto, em 2005.
Mentiroso. Ao tomar conhecimento das acusações feitas por
Valério, Lula o chamou de mentiroso. “Eu não posso acreditar em mentira, eu não
posso responder mentira”, reagiu o ex-presidente, em dezembro do ano
passado.
No
depoimento de 13 páginas, Valério disse ter passado dinheiro para Lula arcar com
“gastos pessoais” no início de 2003, quando o petista já havia assumido a
Presidência. O empresário relatou que os recursos foram depositados na conta da
empresa de segurança Caso, de propriedade do ex-assessor da Presidência Freud
Godoy. Nas palavras de Valério, Godoy era uma espécie de “faz-tudo” de Lula.
Ao
investigar o mensalão, a CPI dos Correios detectou, em 2005, um pagamento feito
pela SMPB, agência de publicidade de Valério, à empresa de Freud. O depósito
foi feito, segundo dados do sigilo quebrado pela comissão, em 21 e janeiro de
2003, no valor de R$ 98,5 mil.
Oficialmente,
Freud Godoy afirmou que o dinheiro serviu para o pagamento de serviços
prestados durante a campanha eleitoral de 2002. Esses serviços, admitiu Freud
Godoy à época da CPI, não foram formalizados em contrato e não houve
contabilização formal das despesas.
No
depoimento, Valério disse que esse dinheiro tinha como destinatário o
ex-presidente Lula. Ele, no entanto, não soube detalhar quais as despesas do
ex-presidente foram pagas com esse dinheiro. Conforme pessoas próximas, Valério
afirmou que esse pagamento ocorreu porque o governo ainda não havia descoberto
a possibilidade de gastos com cartões corporativos.
Gurgel
volta de férias na próxima semana e vai se debruçar sobre o assunto. A
auxiliares, o procurador já havia indicado que seria praticamente impossível
arquivar o caso sem qualquer apuração prévia. No fim do ano, a subprocuradora
Cláudia Sampaio e a procuradora Raquel Branquinho, que colheram o depoimento de
Valério, foram orientadas por Gurgel a fazer um pente fino nas denúncias.
A
intenção era identificar possíveis inconsistências no depoimento e armadilhas
jurídicas. Gurgel, por mais de uma vez, manteve reservas sobre a acusação feita
por Valério. E publicamente afirmou que o empresário é um jogador. Mas não
desqualificou de pronto as afirmações do operador do esquema.
O
advogado de Valério, Marcelo Leonardo, disse que seu cliente vai aguardar “o
destino que será dado ao expediente”.
Cobrança. No STF, a revelação das acusações levou integrantes do tribunal a cobrarem investigações. O presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, afirmou em dezembro que não haveria outra saída senão investigar. “O Ministério Público, em matéria penal, no nosso sistema, não goza da prerrogativa de escolher o caso que leva adiante, que caso ele vai conduzir. É regido pelo princípio da obrigatoriedade, tem dever de fazê-lo”, disse.
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