Fernando Henrique Cardoso, presidente do honra do PSDB, ao lado do presidenciável tucano Aécio Neves |
Para
FHC, Serra não vai sair do PSDB, como ameaça, e provavelmente não será
necessária a realização de prévia entre ele e Aécio. "Eu acho difícil",
afirma Fernando Henrique, em entrevista ao Valor PRO, serviço de
notícias em tempo real do Valor. FHC argumenta que os tucanos nunca
estiveram tão unidos, situação que, em sua opinião, não pode ser
desperdiçada. "A dificuldade [para Serra]é que o PSDB em sua imensa
maioria está com Aécio. Então, acho que a pessoa tem que ser realista",
diz.
O ex-presidente lembra que nas últimas eleições houve cisão interna, o
que gerou indefinição e prejudicou o PSDB na urnas. Serra, afirma, tem
direito de postular a candidatura, mas sem atrapalhar. Na contramão da
oposição, FHC diz ser favorável à polêmica importação de médicos feita
pelo governo federal: "Não sou contrário, desde que haja clareza e
diploma que realmente tenha valor". A seguir, os principais trechos da
entrevista ao Valor Econômico:
Qual tem sido o seu papel na disputa entre Aécio e Serra?
Não precisa chegar ao ponto de ser um
bombeiro. Acho que temos que dar um pouco de tempo ao tempo. Há dois
passos decisivos do Serra. Um é agora: resolver se ele fica no PSDB ou
não. Meu palpite: ele fica.
Por que um palpite?
Não, somente porque ele não me disse. Eu sou prudente. Mas o
Serra é um ser racional. Não tem muito sentido você sair de um partido
onde sempre esteve, onde construiu sua história e contribuiu para a
história do partido, e ir para uma coisa que você não sabe como é, com
um ponto de partida frágil.
Seria uma candidatura frágil, se for para outro partido?
É frágil. Qual é a dificuldade? A dificuldade [para Serra] é que
o PSDB em sua imensa maioria está com Aécio. Quer o Aécio. Então, acho
que a pessoa tem que ser realista, até que ponto tem sentido se
apresentar como candidato ou não. Mas isso só o tempo vai mostrar, se é
possível ou não.
Ele pode atrapalhar?
Ahn... agora não. Porque está muito longe, o povo não está nem
aí para esta questão de eleição. Agora, tem um momento, o PSDB vai ter
que... Qual foi o nosso problema nas outras candidaturas? É você ter
indecisão por muito tempo. Não dá para repetir isso. A vantagem que
temos agora é que houve uma tendência consolidada no PSDB pela
candidatura Aécio.
O sr. vê uma diferença grande no processo de escolha desta vez em relação às outras eleições
Ah, sem dúvida. Nos outros anos, houve muito mais indecisão. O
partido estava mais dividido. Agora não. O que tem é uma aspiração
legítima do Serra, mas não é que o partido se dividiu entre um e outro.
Neste momento, nos diretórios, que eu saiba, não existe nenhuma cisão
dentro do PSDB. O PSDB está ao redor da candidatura do Aécio.
Há clima para prévias?
Eu acho difícil. Mas, claro, se o Serra insistir em ser
candidato ele tem o direito. Agora o partido também tem a obrigação de
dizer: "Vamos resolver isso logo, não pode esperar". Para não cair nos
erros do passado.
Até quando o sr. acha que o partido pode esperar?
Primeiro temos que deixar passar o que vai acontecer agora no
fim do mês. Não adianta especular antes da hora. Meu palpite é que Serra
fica. Se não ficar, muda tudo. Por que é ele e outros. Mas não há
tendência nenhuma de as pessoas saírem. Não há. Ninguém. Nenhuma força
importante. Até porque as dificuldades do governo [federal] são enormes.
Nunca houve conjuntura tão favorável a uma alternativa. Nosso dever é
construir essa alternativa, com seriedade, o quanto antes e juntando
gente.
O Aécio, em terceiro lugar nas pesquisas, ainda não decolou. Isso não preocupa?
Não é hora de decolar. O povo só vai se abrir para isso no
segundo semestre do ano que vem. É hora de se organizar, de organizar o
discurso, ter presença articulada com outros setores.
Mas a classe política já se prepara e se articula com os demais nomes do cenário, como Marina Silva e Eduardo Campos.
A Marina, indiscutivelmente, se beneficia, neste momento, dessa
onda dos protestos. Agora, no ponto de partida, o Aécio tem [o apoio de]
Minas, uma estrutura grande do PSDB e candidatos organizados em
praticamente todos os Estados. E o Eduardo tem menos. De fato, vamos ver
como é que a porca torce o rabo, quando estivermos na campanha. Quem
tem mais organização na oposição é o Aécio. A Marina não tem nem
partido. E o Eduardo tem, mas é um partido mais fraco que o PSDB. No
ponto de partida, Aécio tem vantagem, independentemente das variações de
[pesquisa de] opinião. A opinião está muito longe da eleição. O Serra
saiu sempre muito na frente, e não ganhou. Isso é muito relativo.
Mas o Serra não se espelha na trajetória do ex-presidente Lula, que concorreu quatro vezes até finalmente vencer?
Sim, mas o partido queria que o Lula fosse. Não é a mesma
situação. E o PT não tinha alternativa. São situações diferentes. A
candidatura não depende de você. Depende de os outros quererem.
O Serra pode atrapalhar e jogar contra o Aécio em São Paulo,
durante a campanha, numa revanche ao que teria acontecido em Minas, em
2010?
Primeiro, o Aécio nega isso. Serra ganhou em BH. Segundo, o
Serra não pode fazer isso porque seria trair o partido. Acho que isso
ele não faz.
O sr. se sente o patrono da candidatura Aécio?
Não, a candidatura foi lançada não foi nem por mim, foi pelo
[deputado federal] Sérgio Guerra, pelo [ex-presidente do PSDB] Tasso
[Jereissati] e eu apoiei Porque o partido está nesta direção e porque eu
acho que o momento é de você renovar.
O sr. é a favor do programa de importação de médicos?
Não tenho muita clareza. O estranho é o Brasil pagar e o governo
de Cuba escolher quem vem. Agora, que obviamente sejam médicos, que
haja alguma aferição destes diplomas. Há diplomas e diplomas. Mas não
acho que seja errado. Não sou contrário desde que haja uma coisa com
clareza, que tenha diploma que realmente tenha valor. Agora, o resto, se
for necessário... Sempre fui muito favorável a que houvesse migração,
liberdade de movimento de pessoas, o Brasil precisa de gente com
competência. Agora, tem que ter algum critério para saber se tem
competência mesmo.
O que o sr. achou do relato de que a presidente Dilma teria
saído de motocicleta por Brasília para escapar da rotina, sem ser
notada?
Eu não vi isso. E nem acredito. A quem se atribui ter feito isso
foi o [ex-presidente e general João Batista] Figueiredo (1918-1999).
Não acho que ela faça isso, não.
E o sr. já fez ou teve vontade de fazer algo semelhante quando era presidente?
Esse não é o meu estilo.
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