terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Entrevista coletiva de Aécio Neves em Florianópolis

Leiam no Diário Catarinense:


O discurso já é de campanha. Fala de Saúde, Educação e Segurança. O tratamento foi de celebridade, com pelo menos meia hora de uma sessão de fotos para recordação. Foi assim a passagem do senador, presidente nacional do PSDB e presidenciável, Aécio Neves, por Florianópolis. Ele participou, nesta segunda-feira, de um encontro com empresários na Federação das Indústrias de Santa Catarina. Em seguida, almoçou com lideranças tucanas do Estado.

O mineiro já tinha vindo à eleição do presidente estadual do PSDB e agora participou das eleições do PSDB Jovem e do PSDB Mulher, nessa segunda-feira. O objetivo é dar unidade ao partido e ao mesmo tempo firmar o nome para a provável campanha do ano que vem.

Nos últimos meses o tucano endureceu as críticas em relação ao governo federal e à presidente Dilma Rousseff, dando ares de campanha a este ano pré-eleitoral. A prioridade do PSDB Nacional é a eleição de Aécio. A do partido no Estado também.

Aécio garante o nome de Paulo Bauer ao governo. Mais do que o próprio catarinense. Nos bastidores, assim como em outros anos, os tucanos confirmam que o partido irá com o nome que garantir o palanque mais forte à Aécio. Para a campanha, que parece já ter começado.

:: Confira as respostas de Aécio Neves na entrevista coletiva concedida na tarde desta segunda-feira:

O que trás o senador novamente ao Estado? A construção de um palanque, de alianças?
Aécio Neves - O partido nesse momento busca uma aliança com a sociedade de Santa Catarina. O discurso do PSDB aqui sempre foi muito fácil porque ele é convergente com o sentimento das pessoas. Nós queremos maior desenvolvimento. Nós queremos uma maior participação dos municípios na distribuição de receitas, por exemplo. Paulo Bauer é o nome que o partido coloca como alternativa ao governo do Estado. Quanto mais nós falarmos com a sociedade, quanto mais sintonia, eco, houver com o que nós falamos, alianças poderão vir. Alianças, tanto a nível nacional, quanto a nível estadual, serão construídas a partir de abril ou maio do ano que vem. A hora é de fazer o que estamos fazendo: conversando com o Estado, com as pessoas, vendo as dificuldades pelas quais passam. Há um agravamento no processo de desindustrialização do Brasil e que pune exatamente aqueles que tem competitividade. A hora é de conversar. Alianças só no ano que vem.

Mas já há uma avaliação da situação do Estado, com o governador indicando seu apoio à presidente Dilma Rousseff?
Aécio - Nós buscamos o apoio da população de Santa Catarina, que, diga-se de passagem, sempre esteve ao lado do PSDB nas eleições nacionais. E nos deu vitórias aqui extremamente expressivas. Não vejo nenhuma razão para que isso mude. Até porque nós teremos um palanque sólido. O nome do senador Paulo Bauer está colocado como nosso possível candidato ao governo. Vamos construir aqui um discurso e uma proposta nova para o Estado e não tememos adversários. Respeitamos todos, mas não temos medo. Acredito que aqui, mais uma vez, o PSDB sairá vitorioso.

Nos discursos o senhor tem falado em mudança na forma de fazer política. Mas, fora do discurso, o que seriam essas mudanças?
Aécio - Primeiro eu diria que há um sentimento claro de mudança no Brasil. E nós assistimos - não podemos esquecer, não faz tanto tempo assim - o país indo às ruas, cobrando dos governantes, independente de partido, ética na vida pública, eficiência na entrega dos serviços públicos e, obviamente, um crescimento maior, com qualidade na Educação, na Saúde e na Segurança Pública. Nenhuma dessas questões colocadas teve, na minha avaliação, respostas adequadas por parte do governo. O governo responde a essas manifestações com uma proposta de uma constituinte para encaminhar uma reforma política, da qual o governo já se esqueceu, até porque nos últimos dez anos não propôs uma agenda para a reforma política. O que eu tenho dito é que é essencial nós resgatarmos no Brasil os valores, os compromissos éticos com a lisura, com a transparência e com a correção na vida pública. O Brasil hoje quer nos fazer crer que é normal obras serem orçadas por x e no meio do caminho já estarem gastando 3x. E não serem entregues no prazo. Acho a ineficiência a maior das marcas desse governo.

Não começa de forma muito tardia o discurso de oposição? As críticas mais duras ao governo Dilma são recentes, deste ano.
Aécio - Não vejo dessa forma. Talvez eu compreenda essa preocupação porque há sempre uma comparação com a forma com que o PT fazia oposição. Nós jamais faríamos oposição com a irresponsabilidade que o PT fazia. Tudo que vinha do governo FHC era visto como com vício de origem. Era contra sempre. O PT foi contra o Plano Real, o maior programa de transferência efetiva de renda na história contemporânea do Brasil. Foi contra a lei de responsabilidade fiscal. O PT foi contra todo o processo de privatizações, que hoje faz de forma envergonhada. Nós não faremos oposição ao Brasil jamais. Nossa oposição é em relação ao governo. Infelizmente há hoje quase que um monólogo no país. Espero que iniciado o processo eleitoral, nós possamos ter mais espaço para o contraditório.

Ainda assim há comentários de que a oposição foi fraca até agora…
Aécio - Nós, por exemplo, defendíamos determinadas questões, como as concessões quando éramos governo. Agora que somos oposição vamos ser contra porque eventualmente o governo pode faturar? A verdade é que o governo do PT, quando copia e repete a agenda do PSDB, acerta. Quando vai na sua própria agenda, é um desastre. Foi assim na questão macroeconômica, quando o governo do presidente Lula esqueceu seu discurso e manteve ali (a política econômica do PSDB), por um tempo, porque depois ruíram esses pilares, como as metas de inflação. Foi assim quando o PT jogou fora o seu programa social, que era o Fome Zero, e unificou os programas de transferência de renda do governo FHC e os ampliou, essa virtude nós temos que reconhecer. E agora, depois de dez anos demonizando o setor privado, ele agora se curva às concessões. Só que faz isso com dez anos de atraso.

Qual seria um exemplo da agenda do PT?
Aécio - A Petrobras, infelizmente, é o mais triste exemplo da inoperância do governo e a incapacidade de gerir a sua política econômica de forma adequada. Ele utiliza a Petrobras para manter os níveis de inflação não muito altos. Porque o PT sempre teve, de forma irresponsável, a tendência de às vésperas de eleição acusar o PSDB de vai privatizar isso ou aquilo. Em relação à Petrobras, por exemplo, o que nós vamos fazer é reestatizá-la. Tirá-la das garras de um partido político e de um projeto de poder, para que ela possa voltar a ser um instrumento de desenvolvimento do país. Aqui em Santa Catarina, por exemplo, um dos problemas crônicos que nós temos é a ausência de gás. A demanda é muito maior do que a oferta. A Petrobras deveria estar investindo, mas não vai porque perdeu a sua capacidade de investimento. Perdeu 40% do seu valor de mercado em apenas sete anos. E é hoje a empresa não financeira mais endividada do mundo.

Fará parte da sua campanha o enxugamento da máquina pública?
Aécio - Sem dúvida alguma. Temos que gastar menos com a estrutura do Estado para gastar mais com as pessoas. No governo do PSDB nós cortaríamos pela metade o número atual de ministérios, que é quase um acinte. Acho que é um tapa na cara do cidadão brasileiro. Em um momento em que os Estados e municípios estão quase em situação de insolvência, nós assistimos o Brasil ser o segundo país no mundo com o maior número de ministérios. Só perde para o Siri Lanka.

Há propostas em relação a um novo pacto federativo?
Aécio - Na base da discussão que o PSDB vai apresentar - e eu vou na próxima semana divulgar um conjunto de ideias que vou colocar em discussão com os brasileiros -, está um novo pacto federativo, onde os Estados e municípios vão ter mais receita a partir de mudanças do Congresso Nacional.

Senador, o senhor tem conversado bastante com o governador Eduardo Campos. Vai haver uma unificação do discurso de oposição?
Aécio - Em primeiro lugar, eu sempre dei e dou novamente as boas vindas ao governador Eduardo Campos ao campo oposicionista. Eu concordo com a percepção que ele e que a ex-ministra Marina Silva tem, de que esse ciclo do PT está no final. Eu converso muito com o Eduardo, há muito tempo, desde quando éramos governadores, quando me elegi pela segunda vez e ele pela primeira. Ele buscou em Minas Gerais muitas iniciativas importantes que depois foram implementadas em Pernambuco. A presença do Eduardo é saudável. Ele é um bom gestor. Aquilo que eu não vejo no plano federal. Não vejo na presidente da República nenhuma característica de uma boa gestora. Nós vamos falar dos mesmo temas. Se será com a mesma abordagem, o tempo que irá dizer.

Houve um encontro do senhor com dirigentes da Fiesc hoje pela manhã. O senhor disputa com Eduardo Campos a preferência do empresariado. E com a presidente Dilma, apesar de parte estar insatisfeita com a condução da economia. Quem está na frente?
Aécio - O tempo vai dizer. Eu vejo a presença do governador Eduardo Campos na disputa, ao contrário do PT, como algo extremamente positivo. O debate vai ser mais plural. Outros temas vão vir. Eu não me satisfaço com o pleno emprego de dois salários mínimos, no que está se transformando o Brasil. Disse isso hoje no encontro na Federação das Indústrias. Somos um país que caminha a passos largos para a desindustrialização. Hoje a indústria representa 14% do PIB. O mesmo que há 60 anos, na época do Juscelino Kubitschek. Isso não se justifica. Há uma preocupação convergente nossa com a indústria e o agronegócio. É um diálogo fácil para nós.

Como enxerga as pesquisas que tem colocado a presidente Dilma Rousseff cada vez mais à frente?
Aécio - Se vocês voltarem um pouco no tempo, nessa mesma semana de 2009, com a mesma distância que estamos hoje de 2014 e estávamos para 2010, a atual presidente da República tinha 16-17% no máximo nas pesquisas eleitorais. Por que ela não tinha mais pontos? Porque as pessoas ainda não a identificavam com o sentimento que havia naquele momento, de continuidade. A partir do momento em que houve essa identificação, ela avançou. O sentimento hoje é outro. É de mudança. Quem for para o segundo turno com a presidente, se é que é ela que irá, pode se preparar para vencer as eleições.

Na história política recente, apesar da surpresa de Marina Silva em 2010, as eleições sempre foram polarizadas entre PT e PSDB. Ter um terceiro nome de peso ajuda o PSDB por aumentar as chances de segundo turno?
Aécio - Acho bem vinda uma outra candidatura. O PT sempre trabalhou contra essa candidatura. Tentando inviabilizar o partido da Marina, criando todos constrangimentos ao PSB, partido do Eduardo, tirando inclusive um governador desse partido (Cid Gomes, do Ceará, que se filiou ao PROS). O PSDB tem um discurso muito claro. Nós somos oposição sem adjetivos. Mais quatro anos para o PT é perigoso para o Brasil. Até do ponto de vista da democracia. Porque é um partido no governo que ameaça o Judiciário quando a decisão não lhe é favorável. E a opção experimentada, a opção da mudança sem maiores riscos, é com o PSDB.

O mensalão e as manifestações devem influenciar no processo eleitoral no ano que vem?
Aécio - Quanto às manifestações, acho que temos que esperar o que está por vir. Em relação ao mensalão, o que eu sempre defendi é que houvesse um desfecho. Independente de quem fosse ou não condenado. Nunca apontei o dedo para dizer: condene A ou não condene B. O STF, 8 dos 11 ministros nomeados pelo partido do atual governo, acharam que alguns dos nomes investigados eram culpados e foram condenados. Do ponto de vista do Brasil, da sensação de impunidade que sempre tivemos, é positivo. O PT faz um mal a si próprio ao politizar essa questão. O Brasil, felizmente, desde que nós reconquistamos a democracia, não tem mais presos políticos, como quer fazer parecer o partido. Tem políticos presos.

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